sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Trabalhos Ciclópicos


António de Abrunhosa
AFLOBEI - Associação de Produtores Florestais da Beira Interior


A agricultura não parece ser o futuro desta região. Mas, como a indústria o é cada vez menos e não se pode povoar uma região só com funcionários públicos, talvez se tenha de voltar a pensar na agricultura. Desde logo, porque o povo não desapareceu, apenas abalou para onde se come muito mas não se faz comida (não nascem couves no Colombo). E, depois, porque o que se come lá e não se faz cá, de algum lado virá e alguém o pagará. Foi mais ou menos a pensar nisto que os criadores da Comunidade Europeia inventaram a política agrícola comum. E, ainda hoje, os países mais desenvolvidos da Europa e do mundo têm poderosos sectores agrícolas. E se a coisa fazia sentido nos anos 50 quando os Chineses estavam longe do bilião e viviam felizes com uma malga de arroz por dia, faz muito mais sentido hoje quando 3 biliões de pessoas, que vivem para lá do meridiano que passa em Izmir, se habituaram já a comer frango e borrego ou porco e vaca ao almoço e ao jantar.

[…]

Na Beira Baixa já não vamos a tempo de relançar uma agricultura produtiva de dimensão nacional depois da destruição pelo presente Ministro do último grande ciclo de investimento permitido pelo tabaco que teria sucedido aos do trigo e do tomate. Resta-nos salvar produções especializadas de alta qualidade e revitalizar o meio rural com todas as contribuições que este traz a uma população cada vez mais imersa nos programas do Goucha ou nos Buzz das playstations.

É uma tarefa ciclópica em sentido literal, porque já só temos um olho (o outro já ficou em Bruxelas) e o dinheiro quase não dá para mandar cantar um cego.


Descarregue PDF da Revista Viver 11

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