sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Cooperar para Desenvolver


Domingos Santos
Docente do IPCB – Instituto Politécnico de Castelo Branco


No decurso de um trabalho em que colaborei, tive oportunidade de conhecer um empresário da região que, sem ponta de ironia, afirmava basear a sua conduta no chamado código de ética do ilusionista:


“Não dizer o que se faz;
Não fazer o que se diz;
Dizer o que não se faz;
Fazer o que não se diz”.


Este episódio parece-me constituir, em boa verdade, uma metáfora bem ilustrativa de alguns dos desafios que enfrenta o mundo rural. Em grande parte do universo empresarial e institucional mais tradicional prevalece ainda esse espírito de solidão e de secretismo pouco esclarecido, de quem não percebeu a mudança e o significado dos novos tempos e dos novos desafios. A verdadeira grande ilusão é continuar a perspectivar as estratégias de inserção na economia-mundo como se tudo resumisse ao velho chavão de que o segredo é a alma do negócio! Se os agentes mal se dão a conhecer, como podem criar laços de confiança que são o fermento de qualquer projecto de cooperação?

[…]

A interacção de carácter cooperativo e estratégico é, a este nível, um instrumento fundamental. No fundo, a globalização torna ainda mais premente a necessidade de os actores locais se dotarem de planos e estratégias para se reposicionarem às escalas nacional e internacional. É importante que os territórios se abram ao mundo, mas de forma organizada e inteligente. Diferenciada. O mais importante para as comunidades locais é crerem em si próprias. Sem esta confiança nos seus recursos, na sua inteligência, na sua energia, nenhuma alcançará o sucesso a que aspira.

[…]

Persiste, em Portugal, a lógica paternalista de que cabe ao Estado central representar o mundo rural nos processos de negociação, onde, por razões que são de todos conhecidas, existe um manifesto défice de capacidade reivindicativa. Mais descentralização, mais confiança nos diferentes actores locais, mais regulação institucional e maior conhecimento das realidades locais e regionais seriam caminhos seguramente mais eficazes e democráticos para o desenvolvimento rural integrado e participado.


Descarregue PDF da Revista Viver 11

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