sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Obrigado Professores(as) das Escolas da BIS

Professores (as) das nossas escolas são parceiros da elaboração do presente número desta revista. Das suas observações, análises, reflexões e até desabafos, resultaram diferentes e interessantes abordagens sobre os problemas deste tema, que muito contribuíram para alargar o debate sobre a educação que se faz, ou não, nas nossas escolas.

O material resultante é diverso e de grande qualidade, pena é que não possamos publicá-lo na íntegra, por absoluta falta espaço. Dada a riqueza da experiência, gostaríamos de a continuar, encontrando-nos mais vezes, com o objectivo de desenvolver as reflexões iniciadas e, se possível, porque não, organizar a publicação de um livro sobre “a educação raiana”, a que por cá se faz e a que se devia ou poderia fazer. Também nós necessitaremos do estímulo do vosso entusiasmo para uma tal tarefa, se assim o entenderem. Atentamente e expectantes, aguardaremos.

A título de ilustração, aqui vos deixamos alguns “pedaços-fragmentos” das conversas realizadas.


- “Pode-se desde logo começar a discutir o problema pelo facto do Ministério se chamar Ministério da Educação. Não se chama assim por acaso, responde a uma evolução do papel social das escolas”.


- “A altura em que o professor desempenhava a figura com papel mais preponderante nas aldeias já lá vai e por motivos vários. A escolarização nessas alturas era uma coisa perfeitamente não vulgarizada, nem toda a gente tinha acesso à escolarização, uma percentagem muito significativa das pessoas não ia à escola”.


- “(...) as famílias deixaram de ser nucleares no sentido de que deixaram de representar o máximo papel de organização social na sociedade e deixaram de ter igualmente o papel quase exclusivo da educação. À escola cabia apenas o papel da instrução. Também a evolução social da mulher, que deixou de estar tradicionalmente em casa para começar a trabalhar, abriu outra perspectiva para a escola – é a perspectiva de ter os alunos o maior tempo possível dentro da escola. Com o alargamento sucessivo do horário dos alunos, hoje há alunos confrontados com cerca de 40 horas de aulas semanais. Isto tem como principal objectivo o de manter os alunos “guardados” durante o maior espaço de tempo possível. Hoje a escola é uma parte da resposta às exigências e necessidades das famílias, na guarda dos seus filhos”.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Dos rurais envergonhados?

Para o Director desta revista, “VIVER” é falar das vidas vividas pelas Veredas e Avenidas da BIS (Beira Interior Sul). É falar e reflectir sobre a nossa condição e as teias que tecemos para nos relacionarmos uns com os outros e com as coisas existentes na natureza do nosso território. É percorrer assiduamente os nossos “circuitos de manutenção cerebral” da mesma forma que outros percorrem os “circuitos de manutenção física”.


Onde a Cidade?

Já vai havendo muito quem pense que a “Cidade”, ao contrário do que até agora se dava por adquirido e certo, pode não estar onde há muitos prédios e muitas pessoas; mas está, com certeza, onde há “CIDADÃOS”, sejam eles ditos rurais ou urbanos.
São os Cidadãos que formam a “CIDADE” e dificilmente o contrário!
Para estas novas correntes de pensamento, todo o espaço habitado por CIDADÃOS é CIDADE!
Assim, não se deveria chamar – CIDADE – a um denso aglomerado de habitações onde vivam “simples submetidos”, pessoas ignorantes dos seus direitos e deveres sociais, pessoas sem nenhuma espécie de intervenção social, pessoas totalmente passivas sem capacidade para pensar e tão só para aceitar o que a vida lhes vai proporcionando.
Cada pessoa é ou não um “CIDADÃO” (sujeito activo da sua sociedade) quer viva rodeado de floresta vegetal ou de “floresta” de ferros e cimento com muitas luzes de néon.
Pode haver “CIDADE” na casa mais humilde e isolada.
Há muita gente sem arte, grosseira, bruta e sem instrução (entre pessoas ditas urbanizadas), mas… estas classificações continuam a ser definições coladas ao conceito de “rustre”!
“Rustre” ainda é, segundo os dicionários e a enraizada cultura dominante, aquele que pertence ao campo, à vida agrícola. Como se no campo não existissem vidas para além das agrícolas! Como se a vida agrícola, por si só, fosse sinónimo de “vida bruta” e a vida urbana sinónimo de “vida inteligente”.
Anda por aí muita gente que pensa ser “Citadino-urbanizado” e não gosta que os tomem por “rurais”; que não são nem uma coisa nem outra, pese o uso do colarinho engomado e gravata. São personagens que vagueiam no limbo das identidades das comunidades em que fingem integrar-se, estão socialmente mortos! Nem rurais nem urbanos, porque, simplesmente, não são CIDADÃOS.


Os rurais envergonhados

Quem se envergonhar da sua condição de nascença ou de pertença, por razões de ordem social e/ou geográfica, não merece ser de parte nenhuma. Não merece ter tido berço, seja ele urbano ou rural.
Os nossos leitores, os Homens e Mulheres da BIS, sejam eles de onde forem, tenham eles a profissão que tiverem, devem orgulhar-se da nossa cultura e combater esse “acanhamento temeroso” que nos leva, muitas vezes, a desvalorizar os nossos conhecimentos e a exagerar a sabedoria dos outros.
Sem inferioridade nem superioridade de parte a parte, porque a CIDADE é onde estiverem CIDADÃOS e o espaço RURAL é onde se produzem os alimentos de todos.
Produzem-se os alimentos, mas não só… também vêm e vieram dos espaços rurais, das práticas da vida rural, das milenares culturas rurais, a matriz de todos os valores morais e éticos que ainda são (ou deviam ser) referências das sociedades contemporâneas hiper-urbanizadas.
Somos todos rurais e urbanos, cada um segundo a preponderância das suas opções de vida. Esta revista é uma Revista que quer pensar e VIVER jogando para o caixote do lixo das tradições inúteis os anátemas fatalistas sobre a condição das pessoas segundo o seu lugar de nascença ou de residência, ou da sua actividade profissional.

António Realinho
Director da ADRACES

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Qualificação versus Educação?

VIVER - Gostaríamos de ouvir a sua opinião sobre uma questão que tem sido muito recorrente nas nossas conversas com os professores da nossa zona: - é preciso fazer a distinção entre qualificação para saber fazer, e educação para saber SER e Estar. Os Pais e encarregados de educação dos nossos alunos têm as competências profissionais que têm e lhes vão servindo para sobreviver economicamente, mas do ponto de vista da cultural e social, da educação cívica (lato senso) se quisermos, o défice é muito maior. Somos nós, professores, quem sofremos as consequências directas desse défice, tendo que suportar tudo o que daí advém, como a falta de respeito e até a violência física.

Valter Lemos - Se nós não tivéssemos os problemas e carências educativas que temos, o País não precisava de exigir tanto às escolas como exigimos hoje. Eu costumo dizer aos professores uma coisa simples: se educarem os filhos estão a fazer o trabalho deles; porque, educando os filhos, também estão educando os Pais. A questão fundamental é que não podemos partir do pressuposto que temos de educar todos os Pais primeiro, porque os Pais somos nós todos. A função da escola é principalmente em relação às novas gerações, que elas consigam novas competências, saberes, conhecimentos e formas de Ser e Estar mais desenvolvidas do que as que tinham as gerações anteriores, de maneira a que os problemas das gerações anteriores não se repitam na nova geração.
[..] Não podemos esperar que todos os Pais e todas as famílias tenham o desejado nível cultural; é o contrário, temos baixas taxas de educação nas famílias e nos adultos em geral, portanto, isso reflecte-se em toda a sociedade e significa que ainda temos problemas sociais complicados que a escola também deve servir para ajudar a resolver.
A escola não pode ficar à espera que tudo isto seja resolvido para depois actuar. A escola tem um papel promocional para o aumento da igualdade de oportunidades, para conseguir dar uma oportunidade àqueles que, se não houvesse escola, não teriam oportunidade nenhuma.